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segunda-feira, 25 de março de 2013

Diário do Viajante (1)

Parei. O bilhete já o tenho no bolso, a estação está praticamente vazia apenas se escutando o murmurar do vento e das folhas que ele consigo levava. De súbito, ouve-se:
- "O comboio Intercidades com destino a Coimbra chegará dentro de segundos"
Lentamente, ergui-me do banco onde me sentara. Chegou a hora de despedir-me, de agradecer toda a hospitalidade que aqueles fantásticos seres tiveram para comigo. Proporcionaram-me 4 dos melhores dias da minha vida, mesmo, no fundo, não tendo sido nada de relevante para elas.
O comboio parou, desloquei-me até à porta... Respirei bem fundo e subi os degraus daquele comboio.
Voltei-me e mirei pela última vez aquela paisagem. Fantástica, verdade? É. E eu sabia que iria ter saudades de estar novamente naquele local.
Despedi-me pela última vez, acenei e o comboio andou. Ali ficara um pouco de mim...

Acomodei-me e por segundos observei a paisagem. Tive tempo suficiente para pensar e escrever aquilo que me ia na alma. E assim o fiz, para mais tarde enviar:

" Cá estou eu de volta à terrinha são e salvo e já com saudades tuas. Gostei bastante destes 4 dias, todas as pessoas foram fantásticas.
No próximo Verão espero que arranjes uns dias do teu "ocupadérrimo" calendário para outro bocadinho comigo. Um obrigado a ti à Luisa e à dona Paula por tudo, gostei mesmo!

Adoro-te, tu sabes... "

Neste momento espero regressar e matar todas as saudades que, de resto, já sinto novamente...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Juntos

Estava na altura de criar novas pegadas na areia. Iam em frente … em direção ao futuro … pois seria lá que encontraria novos sentimentos, novas experiências e, acima de tudo, novas pessoas.
Ao longe, observava as pegadas marcadas na areia, tal como as memórias que ficaram escritas no fundo do meu ser. Mas, à medida que caminhava, a água acabava por cobri-las, desvanece-las. Via essa marca a desaparecer no longo caminho na areia que tinha construído.
Ao meu lado, surgiam novas pegadas na areia, com um caminho tão diferente mas simultâneamente tão idêntico. Mas... porque raio se cruzariam? Seria destino? Coincidência? Só os deuses o saberão…
Via que caminhávamos na mesma direção, com o mesmo destino: caminhávamos rumo a um barco que nos aguardava no horizonte perdido. Barco aquele que só entraríamos se ambos tivessemos força para remar.
Iríamos navegar por águas desconhecidas e nunca iríamos desistir daquilo que mereciamos: a felicidade!
A certa altura senti-me fraquejar. Como que ficar sem fôlego. Na verdade não consegui dar nem mais um passo e caí desamparada na areia, sem que nada nem ninguém me segurassem. Do outro lado ouvi uma voz indignada mas ao mesmo tempo angelical, que me disse:
- “Nem penses que espero por ti. Se queres desistir e olhar para as pegadas que foram o presente mas agora são apenas passado, força! Entrarei no barco sozinho, sem hesitar! Nem penses que espero ou caminho ao lado de quem é fraco ao ponto de desistir tão facilmente, porque eu vou à procura daquilo que necessito para ser feliz: e nada me irá parar. Não tenho medo do desconhecido, porque acabei de sair do abismo e estou mais forte que nunca! Estás disposta a morrer na praia?? Eu não"
Não me senti com forças para responder. Foi aí que senti que ele me agarrara e me arrastara consigo. Chegámos bem perto do pequeno batel e foi aí que ele me questionou:

- "Está na hora da decisão… saltas ou ficas??"
Ele mexeu com o meu orgulho. Mas eu não consegui, algo do outro Mundo me prendia. Estava imóvel...
Ele nem hesitou: saiu, remou contra a forte maré e em minutos desapareceu na neblina...


Parei, sentei-me na areia.
Fiz uma escolha. Colhi um erro. O erro de não ter embarcado. O erro de querer continuar as malditas pegadas já construídas.
O caminho foi curto mas muito intenso, como nunca tinha sido. Mas eu não me esquecia do barco que tinha abandonado, a nova rota a seguir, aquela que, onde alguém que me aguardava na outra costa, teria que rezar ao horizonte para que este barco chegasse, este barco que me ajudaria a fazer a transição da ilha sonhadora que havia construído, para a ilha da verdadeira realidade.
Ainda continuo a andar perdida naquilo que escolhi: continuar as pegadas da nossa vida. Mas não consigo continuar a delinear na areia o esboço do meu ser, enquanto o teu desaparece pouco a pouco com o seguir da caminhada…
Parei. Contemplei a minha história, a nossa história. O meu caminho era firme e seguro, sempre numa direcção. O teu? Já se havia desvanecido à muito pois um amor só resiste, se forem os dois a amar incondicionalmente…

E ele? Aquele ser fantástico?
O que será feito? Terá ele sobrevivido? Estará ele bem, feliz e realizado por ter decidido sair desta ilha e enfrentado tudo, sozinho? Terá sido essa a sua melhor opção?
Pois ele... continuaria à deriva. Derivando lentamente até à morte: o barco jamais chegaria a terra firme, a raspar num qualquer grão de areia. Restou apenas uma vastidão de mar aliada a uma imensidão de nada. O arquipélago em que nós estávamos era demasiado isolado, demasiado complexo para qualquer outro dos mortais se aproximarem. Excepto eu e ele... Nós.
Ele acabou por falecer em viagem, completamente desnutrido. Morreu, pois estava sozinho. A viagem era longa demais e no fundo ele sabia-o: não ia conseguir fazê-la sem companhia, sem a mão que ele outrora pediu que o acompanhasse, a minha mão. Assim a história se desfez, tal como o amor: tão diferente, tão igual.


André Simões dos Santos e Inês Tomé - 2012/2013